Lindos Casos de Chico Xavier

18/05/2013 10:19

    Lindos Casos de Chico Xavier

Chico Xavier

Se você é um admirador do grande médium Chico Xavier, poderá agora acompanhar uma série de casos, extraídos do Livro "Lindos Casos de Chico Xavier" de Ramiro Gama. São exemplos vivos de humildade, compaixão, caridade, sabedoria, obediência e amor. Passemos, então, ao primeiro caso:

 

                                                        TENHA PACIÊNCIA, MEU FILHO
Quando Dona Maria João de Deus desencarnou, em 29 de setembro de 1915, Chico Xavier, um de seus nove filhos, foi entregue aos cuidados de Dona Rita de Cássia, velha amiga e madrinha da criança.
Dona Rita, porém, era obsidiada e, por qualquer bagatela, se destemperava, irritadiça.
Assim é que o Chico passou a suportar, por dia, várias surras de varas de marmeleiro, recebendo, ainda, a penetração de pontas de garfos no ventre, porque a neurastênica e perversa senhora inventara esse estranho processo de torturar.
O garoto chorava muito, permanecendo horas e horas, com os garfos dependurados na carne sanguinolenta e corria para o quintal, a fim de
desabafar e, porque a madrinha repetia, nervosa:
— Este menino tem o diabo no corpo.
Um dia, lembrou-se a criança de que a Mãezinha orava sempre, todos os dias, ensinando-o a elevar o pensamento a Jesus e sentiu falta da prece que não encontrava em seu novo lar. Ajoelhou-se sob velhas bananeiras e pronunciou as palavras do Pai Nosso que aprendera dos lábios maternais.
Quando terminou, oh! maravilha! Sua progenitora, Dona Maria João de Deus, estava perfeitamente viva ao seu lado.
Chico, que ainda não lidara com as negações e dúvidas dos homens, nem por um instante pensou que a Mãezinha tivesse partido para as sombras da morte. Abraçou-a, feliz, e gritou:
— Mamãe, não me deixe aqui... Carregue-me com a senhora...
— Não posso, — disse a entidade, triste.
— Estou apanhando muito, mamãe!
Dona Maria acariciou-o e explicou:
— Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar.
— Mas, — tornou a criança — minha madrinha diz que eu estou com o diabo no corpo.
— Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e se você não mais reclamar, se você tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.
Em seguida, desapareceu.
O pequeno, aflito, chamou-a em vão.
Desde esse dia, no entanto, passou a receber o contato de varas e garfos sem revolta e sem lágrimas.
— Chico é tão cínico — dizia Dona Rita, exasperada, — que não chora, nem mesmo a pescoção.
Porque a criança explicava ter a alegria de ver sua mãe, sempre que recebia as surras, sem chorar, o pessoal doméstico passou a dizer que ele era um “menino aluado”. E, diariamente, à tarde, com os vergões na pele e com o sangue a correr-lhe em pequeninos filetes do ventre o pequeno seguia, de olhos enxutos e brilhantes, para o quintal, a fim de reencontrar a mãezinha querida, sob as velhas árvores, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração.
Assim começou a luta espiritual do médium extraordinário que conhecemos.

 

                                                        O VALOR DA ORAÇÃO
A madrinha do Chico, por vezes, passava tempos entregue a obsessão.
Assim é que, nessas fases, a exasperação dela era mais forte.
Em algumas ocasiões, por isso, condenava o menino a vários dias de fome.
Certa feita, já fazia três dias que a criança permanecia em completo jejum.
À tarde, na hora da prece, encontrou a mãezinha desencarnada que lhe perguntou o motivo da tristeza com a qual se apresentava.
— Então, a senhora não sabe — explicou o Chico — tenho passado muita fome.
— Ora, você está reclamando muito, meu filho! — disse Dona Maria João de Deus — menino guloso tem sempre indigestão.
— Mas hoje bem que eu queria comer alguma coisa...
A mãezinha abraçou-o e recomendou:
— Continue na oração e espere um pouco.
O menino ficou repetindo as palavras do Pai Nosso e daí a instantes um grande cão da rua penetrou o quintal.
Aproximou-se dele e deixou cair da bocarra um objeto escuro. Era um jatobá saboroso...
Chico recolheu, alegre, o pesado fruto, ao mesmo tempo que reviu a mãezinha ao seu lado, acrescentando:
— Misture o jatobá com água e você terá um bom alimento.
E, despedindo-se da criança, acentuou:
— Como você observa, meu filho, quando oramos com fé viva até um cão pode nos ajudar, em nome de Jesus.

 

                                                          O CONSELHO MATERNO

D. Rita de Cássia criava em sua casa, como filho adotivo, um sobrinho de nome Moacir, menino de onze a doze anos de idade.
Moacir trazia larga ferida na perna, quando a dona da casa mandou chamar D. Ana Batista, antiga benzedeira da localidade denominada Matuto, hoje Santo Antonio da Barra, nos arredores de Pedro Leopoldo.
D. Ana examinou a úlcera e informou:
— Aqui só uma “simpatia” dará resultado.
— Qual? — perguntou a madrinha do Chico.
— Uma criança deve lamber a ferida por três sextas-feiras continuadas, pela manhã, em jejum.
E D. Rita perguntou:
— Chico serve?
A benzedeira observou e declarou:
— Muito bem lembrado.
Isso ocorria numa quinta-feira. À tarde, quando o menino foi à prece, sob as árvores, encontrou D. Maria João de Deus, em espírito, e contou-lhe, chorando, que no dia seguinte ele deveria tomar parte na “simpatia”.
— Você deve obedecer, meu filho.
— A senhora acha que eu devo lamber a ferida do Moacir?
— Mais vale lamber feridas que fazer aborrecimentos nos outros — falou o espírito maternal, — você é uma criança e não deve contrariar sua madrinha.
— E a senhora crê que isso poderá curar o doente?
— Não. Isso não é remédio! Mas dará bom resultado para você mesmo, porque sua obediência dará tranqüilidade à sua madrinha.
E, vendo que o menino hesitava, continuou:
— Seja humilde, meu filho. Se você ajudar a paz de que precisamos, você lamberá a ferida e nós faremos o remédio para curá-la.
No outro dia, Chico obedeceu à ordem.
Na sexta-feira imediata repetiu a estranha operação e a úlcera desapareceu.
Quando lambeu a ferida pela terceira vez, viu o Espírito de sua mãe, sorridente, ao seu lado.
Extático, viu-a abraçar Dona Rita. E Dona Rita, transformada, acariciou-o, pela primeira vez, e disse-lhe, bondosa:
— Muito bem, Chico. Você obedeceu direitinho. Louvado seja Deus!
E depois de dois anos de flagelação, o Chico teve a felicidade de passar uma semana inteira sem garfadas e sem vergões.

 

O ANJO BOM

Dois anos de surras incessantes.
Dois anos vivera o Chico junto da madrinha.
Numa tarde muito fria, quando entrou em colóquio com Dona Maria João de Deus, Chico implorou:
— Mamãe, se a senhora vem nos ver, porque não me retira daqui?
O Espírito carinhoso afagou-o e perguntou:
— Por que está você tão aflito? Tudo, no mundo, obedece à vontade de Deus.
— Mas a senhora sabe que nos faz muita falta...
A Mãezinha consolou-o e explicou:
— Não perca a paciência. Pedi a Jesus para enviar um anjo bom que tome conta de vocês todos.
E sempre que revia a progenitora, o menino indagava:
— Mamãe, quando é que o anjo chegará?
— Espere, meu filho! — era a resposta de sempre.
Decorridos dois meses, o Sr. João Cândido Xavier resolveu casar-se em segundas núpcias.
E Dona Cidália Batista, a segunda esposa, reclamou os filhos de Dona Maria João de Deus, que se achavam espalhados em casas diversas.
Foi assim que a nobre senhora mandou buscar também o Chico. Quando a criança voltou ao antigo lar contemplou a madrasta
que lhe estendia as mãos.
Dona Cidália abraçou-o e beijou-o com ternura e perguntou:
— Meu Deus, onde estava este menino com a barriga deste jeito?
Chico, encorajado com o carinho dela, abraçou-a também, como o pássaro que sentia saudades do ninho perdido.
A madrasta bondosa fitou-o bem nos olhos e indagou:
— Você sabe quem sou, meu filho?
— Sei sim. A senhora é o anjo bom de que minha mãe já falou...
E, desde então, entre os dois, brilhou o amor puro com que o Chico seguiu
a segunda mãe, até à morte.

 

A HORTA EDUCATIVA

Quando Dona Cidália reuniu os filhos menores de Dona Maria João de Deus, observou que eles precisavam do grupo escolar.
O Sr. Cândido Xavier, pai da numerosa família, foi consultado. Entretanto, a situação era difícil.
1918, a época a que nos referimos, marcara a passagem da gripe espanhola.
Tudo era crise, embaraço. E o salário, no fim-de-mês, dava escassamente para o necessário.
Não havia dinheiro para cadernos, lápis e livros.
A madrasta, alma generosa e amiga, chamou o enteado e lembrou:
— Chico, vocês precisam ir à escola. E como não há recurso para isso, vamos plantar uma horta. Adubaremos a terra, plantarei os legumes e você fará a venda na rua... Com o resultado, espero que tudo se arranje.
— A senhora pode contar comigo, — prometeu o menino.
A horta foi plantada.
Em algumas semanas, Chico já podia sair à rua com o cesto de verduras.
— Olhem a couve, a alface! Almeirão e repolho!...
E o povo comprava.
Cada molho de couve ou cada repolho valia um tostão.
Dona Cidália guardava o produto financeiro num cofre.
Quando abriram o cofre, Dona Cidália, feliz falou para o enteado:
— Você está vendo o valor do serviço? Agora vocês já podem freqüentar as aulas do grupo.
E foi assim que, em janeiro de 1919, Chico Xavier começou o A-B-C.

 

A HISTÓRIA DA CHAVE

Com a saída do chefe da casa e dos filhos mais velhos para o trabalho e com a ausência das crianças na escola, Dona Cidália era obrigada, por vezes, a deixar a casa, a sós, porque devia buscar lenha, à distância.
Aí começou uma dificuldade. Certa vizinha, vendo a casa fechada, ia ao quintal e colhia as verduras.
A madrasta bondosa preocupou-se. Sem verduras não haveria dinheiro para o serviço escolar.
Dona Cidália observou... Observou... E ficou sabendo quem lhes subtraía os recursos da horta; entretanto, repugnava-lhe a idéia de ofender uma pessoa amiga por causa de repolhos e alfaces.
Chamou, então, o Chico e lembrou.
— Meu filho, você diz que, às vezes, encontra o Espírito de Dona Maria.
Peça-lhe um conselho. Nossa horta está desaparecendo e, sem ela, como sustentar o serviço da escola?
Chico procurou o quintal à tardinha e rezou e, como das outras vezes, a mãezinha apareceu.
O menino contou-lhe o que se passava e pediu-lhe socorro.
D. Maria então lhe disse:
— Você diga à Cidália que realmente não devemos brigar com os vizinhos que são sempre pessoas de quem necessitamos. Será então aconselhável que ela dê a chave da casa à amiga que vem talando a horta, sempre que precise ausentar-se, porque, desse modo a vizinha, ao invés de prejudicar os legumes, nos ajudará a tomar conta deles.
Dona Cidália achou o conselho excelente e cumpriu a determinação.
Foi assim que a vizinha não mais tocou nas hortaliças, porque passou a responsabilizar-se pela casa inteira.

 

A LIÇÃO DA OBEDIÊNCIA

De novo reunido à familia, Chico Xavier, fosse por que tivesse retornado à tranqüilidade ou por que houvesse ingressado na escola, não mais viu o espírito da mãezinha desencarnada. Entretanto, passou a ter sonhos.
À noite, no repouso, agitado, levantava-se do leito, conversava com interlocutores invisíveis e, muitas vezes, despertava pela manhã, trazendo notícias de parentes mortos, contando peripécias ou narrando sucesso que ninguém podia compreender.
João Cândido Xavier, a conselho da segunda esposa, que se interessava maternalmente pela criança, conduziu Chico ao padre Sebastião Scarzelli, antigo vigário da cidade de Matozinhos, nas vizinhanças de Pedro Leopoldo, que depois de ouvir o menino, por algumas vezes, em confissão, aconselhou João Cândido a impedir que o rapazelho lesse jornais, livros ou revistas.
Chico devia estar impressionado com más leituras — dizia o sacerdote —
aqueles sonhos não eram outra coisa senão perturbações, porque as almas não voltam do outro mundo...
Intrigado por ver que ninguém dava crédito ao que via e escutava, em sonhos, certa noite, rogou, em lágrimas, alguma explicação da progenitora de quem não se esquecia.
Dona Maria João de Deus apareceu-lhe no sonho, calma e bondosa, e o Chico deu-lhe a conhecer as dificuldades em que vivia.
Ninguém acreditava nele — clamou. Mas o conselho maternal veio logo:
— Você não deve exasperar-se. Sem humildade, é impossível cumprir uma boa tarefa.
Mas, mamãe, ninguém acredita em mim...
— Que tem isso, meu filho?
— Mas eu digo a verdade.
— A verdade é de Deus, e Deus sabe o que faz, — disse a generosa
entidade.
Chico, porém, choramingou:
— Não sei se a senhora sabe, papai e o padre estão contra mim... Dizem que estou perturbado...
Dona Maria abraçou-o e disse:
— Modifique seus pensamentos. Você é ainda uma criança e uma criança indisciplinada cresce com a desconfiança e com a antipatia dos outros. Não falte ao respeito para com seu pai e para com o padre. Eles são mais velhos e nos desejam todo o bem. Aprenda a calar-se. Quando você lembrar alguma lição ou alguma experiência recebidas em sonho, fique em silêncio. Se for permitido por Jesus, então, mais tarde virá o tempo em que você poderá falar. Por enquanto, você precisa aprender a obediência para que Deus, um dia, conceda ao seu caminho a confiança dos outros.
Desde essa noite, Chico calou-se e Dona Maria João de Deus passou algum tempo sem fazer-se visível.

 

TEMPORÁRIA SEPARAÇÃO

Continuando os desequilíbrios do Chico, em janeiro de 1920, João Cândido Xavier, seu pai, pediu ao padre que fosse mais exigente com a criança, no confessionário.
O sacerdote concordou com a sugestão...
Quando o vigário lhe ouvia as referências sobre as rápidas entrevistas com Dona Maria João de Deus, desencarnada desde 1915, falou-lhe francamente:
— Não, meu filho. Isso não pode ser. Ninguém volta a conversar depois da morte. O demônio procura perturbar-lhe o caminho...
— Mas, padre, foi minha mãe quem veio...
— Foi o demônio.
Severamente repreendido pelo vigário, o menino calou-se, chorando muito.
O Sr. João Cândido, católico de Santa Luzia do Rio das Velhas deu razão ao padre.
Aquilo só podia ser o demônio.
Chico refugiou-se no carinho da madrasta, alma compreensiva e boa.
E Dona Cidália lhe disse:
— Você não deve chorar, meu filho. Ninguém pode dizer que você esteja perseguido pelo demônio. Se for realmente sua mãezinha quem veio conversar com você, naturalmente isso acontece porque Deus permite. Ë Deus estando no assunto ajudará para que isso tudo fique esclarecido.
À noite desse dia, Chico sonhou que reencontrava a progenitora.
Dona Maria abraçou-o e recomendou:
— Repito que você deve obedecer a seu pai e ao vigário. Não brigue por minha causa. Por algum tempo você não mais me verá, contudo, se Jesus permitir, mais tarde estaremos mais juntos.
Não perca a paciência e esperemos o tempo.
Chico acorda em pranto.
Enxugou os olhos, resignado. E, por sete anos consecutivos, não mais teve qualquer contacto pessoal com a mãezinha, para somente receber-lhe as mensagens psicografadas em 1927 e revê-la, de novo, pela vidência mais clara e mais segura, em 1931, quando mais familiarizado com o serviço mediúnico, ao qual se entregara de coração.

 

A PRIMEIRA SESSÃO

De princípios de 1920 a 1927, Chico não mais conseguiu avistar-se pessoalmente com o Espírito de Dona Maria João de Deus.
Integrado na comunidade católica, obedecia às obrigações que lhe eram indicadas pela Igreja.
Confessava-se, comungava, comparecia pontualmente à missa e acompanhava as procissões.
Terminara o curso primário no Grupo Escolar “São José”, de Pedro Leopoldo em 1923, levantando-se às seis da manhã para começar às sete as tarefas escolares e entrando para o serviço da fábrica às três da tarde para sair às onze da noite.
O trabalho, porém, era exaustivo e, em 1925 deixou a fábrica, empregando-se na venda do Sr. José Felizardo Sobrinho, onde o trabalho ia das seis e meia da manhã às oito da noite, com o salário de treze cruzeiros por mês.
Entretanto, continuavam as perturbações noturnas.
Depois de dormir, caía em transes surpreendentes.
Perambulava pela casa, falava em voz alta, dava notícias de pessoas que sofriam no além, mantinha longas conversações, cujo fio era impenetrável aos familiares aflitos.
Em 1927, porém, eis que a sua irmã D. Maria da Conceição Xavier, hoje mãe de família, cai doente.
Era um doloroso processo de obsessão. Tratada carinhosamente pelo confrade Sr. José Hermínio Perácio, que atualmente reside em Belo Horizonte, a jovem curou-se.
Foi assim que se realizou a primeira sessão espírita no lar da família Xavier, em Pedro Leopoldo.
Perácio, na direção, pronunciava vibrante prece.
Na mesa, dois livros.
Eram eles o “Evangelho Segundo o Espiritismo” e o “Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec.
O Espírito de Dona Maria João de Deus comparece e grafa longa mensagem aos filhos presentes, através da médium D. Carmem Pena Perácio, devotada esposa do companheiro a que nos referimos.
Reporta-se a cada filho, de maneira particular. E, dirigindo-se ao Chico, comove-o, escrevendo:
— Chico, meu filho, eis que nos achamos mais juntos, novamente. Os livros à nossa frente são dois tesouros de luz. Estude-os, cumpra os seus deveres e, em breve, a Bondade Divina nos permitirá mostrar a você os seus novos caminhos.
E assim realmente aconteceu.

 

O PRESIDENTE FRUSTRADO

A primeira sessão espírita no lar dos Xavier realizou-se em maio de 1927.
Em junho do mesmo ano, os companheiros dessa reunião cogitavam de fundar um núcleo doutrinário.
Era preciso fundar um Centro — diziam.
E, certa noite, num velho cômodo junto à venda de José Felizardo, onde o Chico era empregado, o assunto voltou a debate.
Na assembléia, estavam apenas dois companheiros espíritas, contudo, junto deles, umas dez pessoas, sentadas, bebiam e comiam animadamente.
— Ah! um Centro Espírita? Boa idéia! — comentava-se.
— Apressemos a fundação!
— Faremos tudo por ajudar.
- Será para nós um sinal de progresso.
E, dentre as exclamações entusiásticas que explodiam surgiu a palavra de um cavalheiro respeitável, pedindo para que o Centro fosse instituído ali mesmo. Quem seria o Presidente? José Hermínio Perácio, o companheiro que acendera aquela nova luz do Espiritismo em Pedro Leopoldo, morava longe, a cem quilômetros de distância.
Mas o cavalheiro de faces avermelhadas prometeu solene:
— Assumo a responsabilidade. A fundação ficará por minha conta.
Chamem o Chico. Ele poderá lavrar a ata de fundação. Serei o Presidente e ele terá as funções de Secretário.
Depois de breve conversação, o grupo recebeu o nome de “Centro Espírita Luiz Gonzaga”.
Chico lavrou a ata que todos presentes assinaram.
Mas, na manhã imediata, o cavalheiro que chamara a si a Presidência, voltou à venda de José Felizardo e pediu para que seu nome fosse retirado da ata, alegando:
— Chico você sabe que sou de família católica e tenho meus deveres sociais. Ontem, aquele meu entusiasmo pelo Espiritismo era efeito do vinho. Se vocês precisarem de mim, estou pronto para auxiliar, contudo, não posso aceitar o encargo de Presidente.
— Mas, e como ficaremos? — perguntou o Chico - eu sou apenas o Secretário.
— Você faça como achar melhor, mas não conte comigo.
E o Presidente saiu, deixando o Chico a pensar.

 

O ENTUSIASMO APAGADO

Em fins de 1927, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, então sediado na residência de José Cândido Xavier, que se fez Presidente da instituição, estava bem freqüentado.
Muita gente. Muitos candidatos ao serviço da mediunidade. Muitas promessas.
José era irmão do Chico e na residência dele realizavam-se as sessões públicas nas noites de segundas e sextas-feiras.
Em cada reunião, ouviam-se exclamações como esta:
— Quero ser médium psicógrafo!...
— Quero desenvolver-me na incorporação!...
— Precisamos trabalhar muito...
— Não será interessante fundar um abrigo ou um hospital?
O entusiasmo era grande quando, em outubro do mesmo ano, chegou a Pedro Leopoldo, Dona Rita Silva, sofredora mãe com quatro filhas obsidiadas.
Vinham ela e o irmão Saul, tio das doentes, da região de Pirapora, zona do Rio São Francisco, no norte mineiro.
As moças, em plena alienação mental, inspiravam compaixão. Tinham crises de loucura completa. Mordiam-se umas às outras. Gritavam blasfêmias. Uma delas chegara acorrentada, tal a violência da perturbação de que era vítima.
O Espírito de Dona Maria João de Deus explicou pela mão do Chico:
— Meus amigos, temos desejado o trabalho e o trabalho nos foi enviado por Jesus. Nossas irmãs doentes devem ser amparadas aqui no Centro. A fraternidade é a luz do Espiritismo. Procuremos servir com Jesus. Isso aconteceu numa noite de segunda-feira.
Quando chegou a reunião da sexta, José e Chico Xavier estavam em companhia das obsidiadas sem mais ninguém.

 

A SURRA DE BÍBLIA

Lutando no tratamento das irmãs obsidiadas, José e Chico Xavier gastaram alguns meses até que surgisse a cura completa.
No princípio, porém, da tarefa assistencial houve uma noite em que José foi obrigado a viajar em serviço da sua profissão de seleiro.
Mudara-se para Pedro Leopoldo um homem bom e rústico, de nome Manuel, que o povo dizia muito experimentado em doutrinar espíritos das trevas.
O irmão do Chico não hesitou e resolveu visitá-lo, pedindo cooperação.
Necessitava ausentar-se, mas o socorro às doentes não deveria ser interrompido.
“Seu” Manuel aceitou o convite e, na hora aprazada, compareceu ao “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, com uma Bíblia antiga sob o braço direito.
A sessão começou eficiente e pacífica.
Como de outras vezes, depois das preces e instruções de abertura, o Chico seria o médium para a doutrinação dos obsessores.
Um dos espíritos amigos incorporou-se, por intermédio dele, fornecendo a precisa orientação e disse ao “seu” Manuel entre outras coisas:
— Meu amigo, quando o perseguidor infeliz apossar-se do médium, aplique o Evangelho com veemência.
— Pois não, — respondeu o diretor muito calmo, — a vossa ordem será obedecida.
E quando a primeira das entidades perturbadas assenhoreou o aparelho mediúnico, exigindo assistência evangelizante, “seu” Manuel tomou a Bíblia de grande formato e bateu, com ela, muitas vezes, sobre o crânio do Chico, exclamando, irritadiço:
— Tome Evangelho! tome Evangelho!...
O obsessor, sob a influência de benfeitores espirituais da casa, afastou-se, de imediato, e a sessão foi encerrada.
Mas o Chico sofreu intensa torção no pescoço e esteve seis dias de cama para curar o torcicolo doloroso.
E, ainda hoje, ele afirma satisfeito que será talvez das poucas pessoas do mundo que terão tomado “uma surra de Bíblia”...

Nota: Aguarde a publicação de um novo caso!

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MUITO TRISTE ISSO

MARIA DAS GRAÇAS SUDRÉ GOMES | 22/05/2013

QUE PENA DURA TEVE NOSSA IRMÃO CHICO SO DEUS MESMO E AJUDA DE SUA MÃE SEMPRE AO SEU LADO.

Re:MUITO TRISTE ISSO

Adenilton | 09/06/2013

Pois é, Dona Maria!

Itens: 1 - 2 de 2

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